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Simpósio faz repensar o automóvel no futuro próximo.

A AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva promoveu, nos dias 25 e 26 de agosto, o XXIII Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva – SIMEA, com o tema “Tecnologia e conectividade melhorando a mobilidade”, reunindo mais de 1.200 participantes, no WTC Events Center, em São Paulo. O resultado parcial do evento foi um convite aos participantes a repensar o automóvel no futuro próximo, por parte da indústria, dos órgãos governamentais e, em especial, pela avidez do consumidor por autoveículos cada vez mais conectados.

 

Na programação, três painéis – “Interação e conectividade do veículo visando a segurança”, “Facilitadores da mobilidade (Infotainment)” e “Choque de realidade – o que se espera do veículo como produto” -, além de quatro sessões de keynote speakers, 60 trabalhos técnicos e a mostra de tecnologia, em parceria com a Automaker, responsável pelo Automotive Testing Show and Expo.

 

Na abertura oficial, o evento reuniu Edson Orikassa, presidente da AEA, Marcos Clemente, coordenador do SIMEA 2015, Antonio Megale, vice-presidente da Anfavea, Sérgio Pin, conselheiro do Sindipeças e  Ailton Brasiliense, diretor do Denatran, que representou o ministro das Cidades Gilberto Kassab.

 

“O tema do evento deste ano é tão atual quanto necessário para instigar e atender aos novos e tradicionais proprietários. Nos últimos anos, o SIMEA debateu sobre o Inovar-Auto, mas a tecnologia e a conectividade ganham importância porque o programa tem como foco a capacitação do polo automotivo”, disse Orikassa, que conciliou a entrega de carta aberta e endossada por 14 entidades do setor automotivo ao representante do Ministério das Cidades, solicitando prioridade na implementação no País de programas de inspeção e de manutenção de veículos em uso.

 

O diretor do Denatran, por sua vez, informou que em 2004 e 2005 foi realizado um trabalho implementação, mas por questões de dificuldades daquela época, inclusive políticas, não avançou. “Acredito que se tivéssemos implantado, não teríamos o número que temos hoje, pois um terço da frota nacional circulante, estimada em 60 milhões de veículos, está fora da lei e que, em São Paulo, o número de veículos irregulares chega a 30% do montante total”, afirmou Brasiliense.

 

“O Inovar-Auto trouxe uma janela de oportunidades e o que vamos ver será muito diferente em 2018 no que se refere a evolução na eficiência energética, novas gerações de motores, tecnologia e eletrônica embarcada”, disse Megale durante cerimônia de abertura. Para ele, a grande alternativa para minimizar e controlar a crise no setor é a exportação. “No entanto, é fundamental que os produtos tenham um nível tecnológico adequado que promova a competitividade”.

Alguns desafios da indústria de autopeças foram apresentadas por Sérgio Pin, como a concorrência com importados, fornecedores de matéria prima, capital de giro, falta de acesso à tecnologia, excesso de impostos, aumento do endividamento do setor, fragilidade da economia brasileira e tecnologia nacional defasada. “O faturamento do setor ficou em R$ 87,6 bilhões em 2013 contra R$ 76,7 bilhões em 2014, sendo que previsão para 2015 é de R$ 62,9 bilhões, ou seja, queda de 28,1%, de 2013 para 2015.

 

O Painel I, cujo tema “Interação e Conectividade do Veículo Visando a Segurança” abriu a sessão de palestras do SIMEA 2015, abordou as mais recentes soluções tecnológicas de interação e conectividade entre os veículos e sistemas públicos e privados de controle e de apoio visando a prevenção de acidentes de trânsito. O veículo conectado já é uma realidade. Cada vez mais vai-se tornar uma necessidade no mundo moderno, quer para melhorar a segurança de seus usuários, para entretenimento, ou para aumentar a fluidez do trânsito nas regiões metropolitanas. A participação de uma montadora, de dois sistemistas de componentes eletrônicos e de um representante de vias pedagiadas forneceram neste painel diferentes pontos de vista de partes desse processo, lançando uma visão sobre o que se pode esperar dessa transformação em andamento sobre o modo de operação e apoio dos veículos.

 

O diretor de Engenharia da Volvo, Jorge Mussi, apresentou um projeto da marca denominado Volvo On Call, serviço controlado por GPS que coloca o motorista em contato com uma central 24 horas em caso de qualquer emergência. O Volvo On Call permite o rastreamento do veículo roubado, imobilização do automóvel, entre outras funções como partida remota do motor, alertas do veículo, diário de bordo, assistência rodoviária etc.

 

Segundo dados apontados por Alberto Rodrigues, diretor de Internet das Coisas da Ericsson, os veículos contribuíram em 2013 com mais um milhão de mortes e a previsão até 2030 são mais 2,4 milhões. Com o objetivo de elevar a segurança viária e o fluxo do tráfego, Rodrigues exibiu o Connected Traffic Cloud, plataforma de nuvem que permite o compartilhamento das condições de tráfego e de estrada de dados em tempo real entre os veículos conectados e autoridades de trânsito rodoviárias. “Trata-se de um compartilhamento de dados anônimos, com mais serviços e fontes de informação”, ressaltou.

 

O programa eHorizon que alia sustentabilidade à tecnologia desenvolvido pela Continental foi apresentado por Eduardo Zanlorenzi, gerente de R&D da empresa. “O sistema via GPS traz informações topográficas eficientes para o controle do motor. Implementado desde 2011 na Europa, estima que a redução de combustível gire em torno de 3%, o equivalente a 63 milhões de litros de Diesel poupado”, afirma Zanlorenzi.

 

Ainda de acordo com o gerente, a tendência é a evolução do produto, ou seja, mais dinâmico que abrirá portas para serviços. O carro conectado vai-se tornar parte da internet, requer a interação entre vários setores da indústria e vai nos trazer mais segurança, eficiência e conforto.

 

A ABCR – Associação Brasileira de Concessionarias de Rodovias, que atualmente congrega 59 administradoras no País (no total são 61 existentes), marcou presença em palestra ministrada por Flávio Viana de Freitas, diretor de Desenvolvimento e Tecnologia daquela entidade. “Nos últimos cinco anos, mesmo com o acréscimo de extensão, registramos uma queda de 16% de mortalidade nas rodovias associadas, sendo que os investimentos em melhorias como recuperação e ampliação giraram em torno de R$ 44 bilhões desde 1995”, afirmou Freitas.

 

Na oportunidade, o diretor comentou sobre a evolução das concessões com a implantação de um sistema de cobrança por veículo por trechos percorridos.  “O veículo é detectado por uma cortina de laser ativando o registro. O número da placa do carro é fotografada e as informações de passagem são processadas”, explicou Freitas. O Painel I terminou após um amplo debate entre o público presente mediado por Ricardo Takahira, coordenador do Comitê Técnico de Eletroeletrônica da AEA.

 

Painel II – “Facilitadores da Mobilidade (Infotainment)” foi tema central do Painel II que apresentou as características de alguns dos criadores dos mais populares aplicativos, sua penetração entre os usuários e visão de futuro. Também foi abordada a importância das soluções de conectividade embarcada influenciando na decisão de compra atual e futura dos veículos.

 

Pesquisas apontadas por Luciano Alakija, líder de Desenvolvimento de Negócios da Telefônica Vivo, indicam 71% dos consumidores atualmente têm interesse na aquisição de um carro conectado e esperam por serviços que vão além da navegação, como manutenção com diagnósticos e resolução de falhas e a segurança. Para Alakija, “quando se fala do futuro no atendimento de demanda, temos alguns itens básicos para levar em consideração, como disponibilidade, latência, ou seja, a agilidade em que o sinal chega, e ainda a confiabilidade para que os dados não sejam perdidos no caminho, independente da forma de integrar o veículo com mundo externo: seja embutido no próprio veículo como por meio de aparelhos externos”.

 

“A mobilidade está ligada a oportunidades e para os fabricantes de automóveis e empresas que prestam a manutenção nos veículos. O grande desafio é criar um ecossistema que seja mais sustentável para, assim, termos mais produtividade”, comentou Richard Chaves, diretor de Novas Tecnologias e Inovação da Microsoft.

 

Para ele, os desafios e ambições em mobilidade incluem o melhor caminho, o mais curto considerando o trânsito, economia compartilhada, prevenção de acidentes, opções além do automóvel como ônibus, trem e metrô, manutenção preventiva, produtividade e comunicação, além de experiência e entretenimento. “O celular é o novo painel. E precisamos trabalhar com desenvolvedores de soluções que façam versões necessárias para ter mobilidade maior neste formato, criar interface que sejam intuitivas e garantam conforto, segurança e produtividade”, afirmou Chaves.

 

O SYNC, programa da Ford que permite ao motorista controlar músicas, chamadas e até mensagens recebidas com o uso da voz e as mãos livres, foi exibida pelo supervisor de Conectividade da montadora, David Borges. Este, aplicado com o sistema AppLink, avança em tecnologia e permite o controle de algumas aplicações para smartphone.

 

“Com o SYNC AppLink, permitimos ao motorista e seus passageiros uma condução mais segura sem abrir mão da conectividade. A parceria com Guia Uol, por exemplo, possibilita a navegação de todo o conteúdo que o guia oferece, como bares e restaurantes na região que o veículo se encontra”, comentou Borges. O Painel II foi encerrado após a participação do público com perguntas e respostas mediadas pela jornalista responsável pelas revistas e website da Motorspress Brasil, Isabel Reis.

 

Painel III – “Choque de Realidade – O que se espera do veículo como produto” mostrou o resultado de uma pesquisa exclusiva do SIMEA 2015 entre universitários brasileiros sobre as expectativas deles para o futuro do transporte individual. A partir desta interpretação, fabricantes de veículos exibiram ainda como procuram desenhar o papel dos veículos do futuro. Esse é o grande desafio para entender para onde caminha a sociedade e suas necessidades para poder oferecer a ela produtos que despertem seu interesse.

 

A pesquisa “Jovem x Automóvel”, realizada com 404 universitários na faixa entre 18 e 25 anos, de São Paulo e Ribeirão Preto/SP, aponta que a nova geração ainda deseja automóveis, mas prioriza tecnologia e eficiência energética. O jornalista Lupercio Tomaz, da Rádio USP e responsável pelo estudo, informou que 59% dos entrevistados não possuíam Carteira Nacional de Habilitação, mas nesse montante, 95% pretendem tirar o documento. “Ainda durante o trabalho, constatamos que 18% apenas dos universitários que participaram da pesquisa veem o carro como um meio de liberdade, sendo 51% acham que o automóvel como um meio de transporte”, afirma Tomaz.

 

Carros em testes com total autonomia de condução devem estar disponível nos próximos 10 anos, como o F 015 Luxury in Motion da Mercedes-Benz apresentado por Dirlei Dias, gerente senior de Marketing do Produto Automóveis da marca. Esse veículo, com assentos variáveis face to face, permite a personalização do tempo gasto em seu habitáculo. “Esperamos ter esse produto em cinco anos em cidades que tenham estrutura para receber o automóvel.  Enquanto isso, preparamos o futuro desenvolvendo tecnologia”, disse Dias.

 

Atualmente a Mercedes-Benz conta com o Magic Body Control, sistema de monitoramento instalado na dianteira do automóvel capaz de fazer a varredura do tipo de piso e as irregularidades  do solo para deixar a carroceria do veículo mais estável, sem solavancos.

 

Outro dispositivo é a câmera 360 graus para o estacionamento autônomo. O Night View Assis reconhece pessoas e animais em ambientes escuros por infravermelho e avisa o condutor por meio de sinais sonoros. Outra tecnologia apresentada é o Head Display – câmera que vai na frente do carro e reflete a imagem no para-brisa em 3D de importantes informações como pressão de pneu, marcha, sem a necessidade do motorista em movimentar a cabeça.

 

“Os centros urbanos estão cada vez mais concentrados e cheios. As megalópoles cada dia maiores e soluções de integração de transporte público precisam ser feitas. Mas todas as tecnologias vão resolver os problemas da mobilidade urbana?”, questiona Rogério Villaça, diretor Brand Jeep, da Fiat Chrysler Latam. Para ele, a simplicidade, que não deixa de ser tecnologia, por muitas vezes resolve o problema do dia a dia. E o carro do futuro talvez volte a ser de passeio, destinado ao lazer, ao o que dá prazer. As demandas diárias de deslocamento sejam cumpridas por meio do uso de diferentes modais de transporte coletivo.

 

Redução do petróleo, aquecimento global e poluição ambiental são os maiores desafios da indústria na visão de Roberto Braun, gerente senior de Assuntos Governamentais da Toyota. Em sua palestra, o executivo informou que hoje a marca trabalha fortemente nas questões de conservação de energia, diversificação de combustível e promoção do uso de carros com tecnologias mais limpas. A marca por sua vez lançou no Japão o Mirai, veículo movido a célula de combustível que deve chegar nos EUA e na Europa ainda este ano.

 

Segundo Braun, o modelo traz vantagens sobre os híbridos e elétricos já que sua propulsão é realizada por meio da eletricidade gerada pela reação química entre o hidrogênio e o oxigênio. Como resultado, zero emissão de CO2 na condução, autonomia de 650 km, sendo que o reabastecimento de hidrogênio é feito em três minutos. O Painell III foi encerrado após debate mediado por Mauricio Muramoto, diretor da Deloitte.

 

Na parte final do SIMEA 2015, com a coordenação da Automaker, foi realizado o Meet of Experts, com a participação de Gotthard Rainer, da AVL List GmbH, Bradley Litz, da MTS Systems Corporation, e de Colt Correa, da Intrepid Control Systems. O encontro teve como mediador Chris Jorge, da Haidar Inc.

 

No último bloco, o evento foi palco da entrega do 4º Prêmio AEA Destaque Novos Engenheiros, cujos vencedores foram Bruno Luchini (da Universidade Federal de São Carlos), Eduardo Augusto Barros de Moraes (Unicamp), Luiz Eduardo Belluco Arraes (Centro Universitário FEI), Rafael Cherman Schvinger (Instituto Mauá de Tecnologia), Rodrigo Magalhães Cruz Alves Silva (Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Rodrigo Marques Collombara (POLI/USP).

 

Coube ao diretor executivo da AEA, Nilton Monteiro, fazer o encerramento do SIMEA 2015.

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