Coluna - No silêncio dos boxes

Primeira Coluna

Olá a todos,

Sou André Buriti, autor do blog SOS Autódromo RJ, que trabalhou durante oito anos na defesa intransigente pela permanência do autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Como todos sabem, o autódromo foi destruído em meados de 2012, de lá pra cá assistimos não só o desmonte de Jacarepaguá, como vimos outras praças esportivas serem inutilizadas ou destruídas tais como Brasilia e Curitiba (tá, Curitiba AINDA não está destruída, mas já é fato consumado), vimos renascer a pista de Goiânia (que lembra muito Jacarepaguá, no meu entender) e ficamos na espera da inauguração de Curvelo, em Minas Gerais e uma nova pista em Penha, no parque Beto Carreiro em Santa Catarina e talvez uma nova pista que está sendo planejada para substituir a de Curitiba, projeto capitaneado pela família Marques. Além da modernização da pista de Cascavel, o surgimento de duas novas praças em São Paulo: Velocittá e Piracicaba, esta última fruto da paixão de Dito Gianetti que literalmente construiu a pista pilotando as máquinas de terraplanagem.

Mas minha coluna não será apenas para falar de autódromos que se foram ou estão ameaçados, no Rio de Janeiro tem o movimento Pró-autódromo, que sucedeu ao meu trabalho, eu defendi a pista de Jacarepaguá, eles defendem uma nova pista na cidade do Rio de Janeiro, o que eu acho equivocado. A cidade na última década encareceu absurdamente o solo urbano e, sendo uma cidade densamente povoada, não tem mais espaços vazios suficientemente grandes para receber um autódromo digno desse nome, além de que, para quê um autódromo numa cidade que se “especializou” em grandes eventos?

Hoje temos dois tipos de automobilismo no país, o de grandes eventos, e o de uso regional. O problema é saber para que automobilismo esses autódromos que sobraram no país vão servir.

As categorias top correm na maioria deles. A F-Truck, pela própria natureza de seus carros, só pode correr em circuitos fechados, já a Stock ressuscitou o modelo das pistas de rua que no passado eram usadas pela F-3 Sudam, mas mesmo essas pistas são limitadas e perigosas. Diferentemente de lá de fora, onde se tem o conhecimento técnico para a construção de pistas provisórias, acho que ainda falta conhecimento e prática nesse tipo de pista aqui no Brasil.

O que sobra para o automobilismo regional, que concentra o grosso dos praticantes do esporte a motor brasileiro, aqui no Sul do país (estou morando agora em Santa Catarina, mas isso é outra história que depois eu conto) é a velocidade na terra, que é amplamente difundida e tem um número enorme de praticantes que correm em várias categorias que depois irei dissecar aqui.

Para não me estender muito nesse post, ainda voltarei ao assunto no futuro, meu objetivo com essa coluna é mostrar que existe um automobilismo possível fora dos grandes centros, fora dos grandes esquemas milionários, e que o automobilismo pode ser uma forma de lazer, caro sim, mas não tanto como a velocidade no asfalto, sem visibilidade nos grandes centros mas com uma mídia local forte, que se paga e se mantém fora da grande mídia, mas proporciona espetáculos para o público, este que vai em peso, lota e torce pelos pilotos, aliás, público que desapareceu dos campeonatos regionais de asfalto, mesmo nas praças onde ele é forte como no Sul do país.

O automobilismo brasileiro precisa retomar sua força a partir de sua raiz, se simplificar, se popularizar, porque o grande atrativo do automobilismo sempre foi alimentar o sonho de quem está fora da pista de um dia estar lá dentro competindo, e se esse sonho for possível por um preço acessível, em que o piloto antes de qualquer ganho financeiro, tenha a sua satisfação pessoal, terá valido a pena, se as corridas de velocidade na terra não fossem boas, equilibrando os custos com o prazer de pilotar, já teriam sucumbido, mas o que eu vejo, agradavelmente surpreso, é que ele é muito forte, e, espero, seja o exemplo por onde o automobilismo brasileiro deve trilhar para voltar a ter popularidade, tirar o público de frente da TV e levá-lo de volta para as pistas para ver de perto este esporte tão emocionante.

Aguardo vocês nas próximas postagens.

Nos vemos na pista.

 

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