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Fórmula 1: Hamilton não se considera melhor que Senna por ter mais vitórias.

Hamilton está muito diferente do piloto que em 2008 encantou a F1 no seu ano de estreia. A sua postura mudou, o seu discurso também mas houve algo que se manteve inalterado ao longo destes anos todos… a grande admiração por Ayrton Senna.

O britânico nunca escondeu que o mítico brasileiro foi o seu grande ídolo e sucedem as demonstrações de respeito por parte de Hamilton em relação ao legado de Senna. Foi tema de conversa as inevitáveis comparações entre Lewis e Ayrton, com Massa afirmando que o piloto da Mercedes está ao nível de um dos grandes nomes da F1. Mas Hamilton recusou esse rótulo e não se considera melhor que o seu ídolo: “A vida de Ayrton foi encurtada e acredito que se ele tivesse a oportunidade de continuar a correr, teria muitas mais vitórias e campeonatos em seu nome. Não sou melhor que ele por ter mais poles ou mais campeonatos. Sinto apenas um grande orgulho por ver o meu nome mencionado juntamente com o dele. Apenas isso.”

Esta afirmação de Hamilton levanta uma questão pertinente e que é muito querida aos olhos dos adeptos da F1. Os números tendencialmente não mentem e um piloto com as estatísticas de Hamilton tem de ser considerado um dos melhores. Mas quem segue a categoria sabe que nem sempre os números contam a história toda. Muito longe disso…

O caso mais recente é o de Fernando Alonso. Os seus números em nada se comparam com os de Vettel ou Hamilton mas é considerado por todos como um dos melhores. O seu talento é respeitado em todo o lado e embora muitos não gostem da sua postura, são muito raros os que não reconhecem a sua qualidade. Alonso dificilmente chegará aos números de Hamilton e Vettel mas tem o seu lugar na história reservado e para muitos será melhor que os dois atrás mencionados.

O caso de Senna é outro semelhante. O seu talento e carisma ultrapassou fronteiras e foram vários os recordes que bateu e que no entanto já foram batidos. Nem o tempo, nem pilotos como Schumacher e Hamilton conseguem diminuir a admiração que Senna ainda tem passados tantos anos.

Gilles Villeneuve é o exemplo mais flagrante que podemos dar. Os seus números são modestos (6 vitórias em 67 GPs) mas a marca que deixou é intemporal e ainda hoje é considerado um dos melhores de sempre. Jacques Laffite disse uma vez que os seres humanos não conseguiam fazer milagres mas Gilles fazia desconfiar disso. Mauro Forghieri, que desenhou várias máquinas para a Scuderia, disse que Villeneuve colocava os carros em posições onde não mereciam estar. Prost, antes da intensa batalha com Senna, afirmou aquando da morte de Villeneuve que “morreu o último grande piloto. Nós, somos apenas bons profissionais.”

Jim Clark é outro exemplo de um piloto que foi ‘apenas’ duas vezes campeão e que é considerado um dos melhores de sempre. Claro que 25 vitórias em 72 GP é considerável, tendo em conta a época em que competiu, mas a frieza dos números poderia levar ao esquecimento dos seus feitos. Graham Hill, um contemporâneo de Clark, tem 14 vitórias em 175 Grandes Prémios, mas o seu talento sempre foi respeitado e é o único piloto a ter a tão famosa ‘Triple Crown’ (Tripla Coroa). Stirling Moss é considerado o melhor piloto de sempre a não conseguir conquistar um título de campeão. As suas 16 vitórias em 66 GP não diminuem a admiração de quem o viu correr.

Outros poderiam entrar nesta discussão… nomes como Jackie Stewart, Niki Lauda, Jack Brabham, alberto Ascari, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, conquistaram títulos e o respeito dos adeptos para sempre, mas os seus números poderiam ser menosprezados, quando comparados com os atuais. Não o são. Outros como Jacky Ickx, Bruce McLaren, Ronnie Peterson, (entre tantos outros) não precisaram de vencer títulos para serem recordados passados tantos anos.

A F1 é um mundo extremamente competitivo, frio e muitas vezes injusto. Um mundo onde a física e a matemática tendem a ter um papel cada vez mais preponderante. E num mundo onde os números ditam a lei, poderia haver a tendência a esquecer o fator humano. No entanto temos vários exemplos que nos mostram que não é preciso vencer corridas em catadupa para ser recordado. Uma espécie de justiça poética que coloca no devido lugar aqueles que mostraram um dom superior aos demais mas que não foram bafejados pela sorte, sempre indispensável para se vencer. É esta magia do reconhecimento do talento puro, sem o auxilio de estatísticas que faz da F1 e do desporto em geral um mundo mágico.

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