Fórmula 1 – Em 2020 a categoria chega ao Vietnã.
A F1 anunciou hoje a confirmação da ida para o Vietnã em 2020. É mais uma adição ao calendário e como seria de esperar as reações ao anúncio foram … mistas.
Se perdermos cinco minutos a percorrer as redes sociais, que para o bem e para o mal, são um termômetro da opinião geral, podemos entender que não há unanimidade. Se uns parecem entusiasmados com a ideia, outros não pouparam nas palavras (como acontece frequentemente nas caixas de comentários) e mostraram de forma forte o seu descontentamento.
Uns elogiaram o traçado, outros criticaram o fato de ser um de rua. Uns eram a favor da “descoberta” de novos palcos, outros criticaram o esquecimento de alguns palcos históricos, outros até foram buscar dados estatísticos para mostrar a probabilidade de chuva para a altura em que está pensado o GP do Vietnã.
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A expansão da F1 para outros países era inevitável. O mercado asiático é muito forte para ser ignorado e a F1 iria sempre aumentar o número de pistas nessa zona do globo. Não é surpreendente este anúncio e nem será surpreendente se outra nação asiática receber um Grande Prêmio. Quanto ao traçado em si, o melhor mesmo é esperar pela primeira corrida e avaliar então. A vontade assumida de ir a Hermann Tilke para buscar inspiração a curvas icônicas de outros circuitos poderá resultar (como resultou no COTA). Claro que o sonho de qualquer fã de F1 é ver as suas curvas preferidas, reunidas numa só pista, mas… pessoalmente acho que um traçado tem de ter características próprias. Vivemos num tempo em que subitamente as ideias desapareceram e limitamo-nos a ver remakes e adaptações. Se é para ver os “esses” de Suzuka, o melhor é ir a Suzuka. Mas como disse, prefiro esperar para ver. Lembro-me de torcer o nariz quando vi o desenho de Baku e a pista tem proporcionado boas corridas.
O fato de ser um traçado de rua para mim é um fator positivo. Os traçados de rua têm a capacidade de transformar uma cidade e quem tem o privilégio de assistir à mutação das ruas que percorre todos os dias para uma pista, não pode deixar de ficar espantando. É um crescimento de entusiasmo à medida que as estruturas vão sendo colocadas e a pista ganha forma (claro que para quem não gosta é uma dor de cabeça). E os de rua são uma fórmula interessante. As pessoas estão cada vez mais comodistas e os próprios fãs nem sempre fazem o esforço para irem aos autódromos. A Fórmula E, usou isso muito bem e entendeu que a melhor forma de convencer novos fãs é levar as corridas até eles (e os circuitos mais pequenos ajudavam muito a disfarçar a falta de velocidade de autonomia das máquinas). E claro, num traçado citadino tudo parece mais rápido, mais dramático e mais intenso.
Nunca fui contra a mudança na F1 e acredito que os próprios fãs têm de se adaptar às constantes evoluções que o automobilismo tem. Mas esta ida para o Vietnã no fundo me deixa triste. É que temos tantas pistas com qualidade e que mereciam receber a F1 que estão postas de parte. Dizia nas caixas de comentários que o grande trunfo da F1, atualmente é ter o nome F1. Há alguma razão nessa afirmação e para a F1 não deixar de ter a mesma força, não pode esquecer as raízes. É difícil aceitar novas pistas quando há pistas míticas que podem perfeitamente receber a F1 e que são esquecidas e outras que correm o risco de deixar de receber o Grande Circo. Essas pistas existem onde a maioria dos fãs estão presentes e que não podem ser tidos como garantidos. São eles a grande força da F1.
O WRX está a seguir uma via que a F1 usou no passado, indo em busca apenas do dinheiro esquecendo a história, a tradição e os fãs, colocando de parte traçados míticos, com as reacções que são conhecidas. A F1, com a Liberty, voltou atrás nessa filosofia e começou a fazer um regresso às origens com resultados positivos. Mas como fã gostava de ver algo mais ambicioso e ver outras pistas voltarem á ação (entendendo que não é tarefa simples).
Há pistas que mereciam ver de novo a F1, pela história que lá foram escritas e que merecia ser relembrada com o retorno da competição. Há pistas que já receberam a F1 e pela qualidade do seu traçado deveriam ver os monopostos mais rápidos em pista. E as pistas tradicionais, tendencialmente nos dão as melhores corridas.
Não é tarefa fácil encontrar um equilíbrio entre tradição e inovação num calendário que para bem das equipes e do pessoal envolvido não deve ter muito mais que 20 corridas por ano. Haverá sempre compromissos a serem feitos e pessoas mais felizes e outras menos. Haverá sempre pistas que mereciam receber a F1 que ficam de fora pois um automobilismo global tem de chegar a zonas onde antes não chegava.