O Derek dos tempos modernos.
O remake de uma história franco-canadense é uma comédia com um fundo de verdade.
Texto: Eduardo Abbas
Quantos filhos um homem pode ter? É uma pergunta muito interessante nos dias de hoje e que fatalmente ficará sem uma resposta precisa. Os homens que viveram há muito tempo atrás eram conhecidos pela sua grande longevidade, mas de pouca fertilidade, nem todos tiveram grandes famílias, eram grandes, mas não desproporcionais, até que, no fim da primeira guerra mundial, um acontecimento que parece ter sido tirado das páginas de um livro de ficção, se tornou público e até hoje deve assombrar as clínicas de fertilização no mundo.
Milhares de homens que, durante a guerra (1914-1918), sofreram traumas e mutilações, ao regressarem para casa, com deficiências e em estado de choque, estavam impedidos de procriar. Foi aí que surgiu Derek, na altura com 20 anos, e que se mostrou disposto a salvar-lhes os casamentos. A idéia partiu da médica britânica Helena Wright e o método de trabalho era simples. As mulheres carentes apenas tinham de marcar um encontro com o jovem através da médica, prometer silêncio e pagar dez libras (cerca de 12 euros), tudo para preservar o verdadeiro conceito do serviço: Fortalecer casamentos trazendo uma criança ao mundo. Ao todo, Derek teve relações sexuais com quase 500 mulheres. Sempre que um filho seu nascia, o jovem recebia um telegrama de Helena Wright. É, até onde se sabe, o pai com mais filhos no mundo.
Talvez baseada nessa impressionante história, e tendo como base o filme Starbuck (Caramel Film, Les Films Christal) que surgiu a comédia De Repente Pai (Dreamworks, Reliance), com estréia marcada nos cinemas brasileiros nessa sexta-feira, que revisita esse conto aparentemente improvável sobre paternidade e família, mas que acaba se revelando bem possível. Vince Vaughn, firme e engraçado, numa interpretação que em momentos navega pela tênue linha da insanidade e da sabedoria, no papel do gentil e fracassado David Wozniak, cujas doações anônimas para uma clínica de fertilização 20 anos antes, por um motivo muito especial, resultaram em 533 filhos. Agora, David deve embarcar em uma jornada que o leva a descobrir não apenas seu verdadeiro eu, mas também o pai que ele pode se tornar. Seu namoro com a policial Emma, interpretado pela linda Cobie Smulders, que em nada lembra a agente Maria Hill da S.H.I.E.L.D., em Os Vingadores, toma um rumo inesperado quando essa lhe diz que esta grávida ao mesmo tempo em que ele descobre ser o patriarca de uma imensa prole.
A direção de Ken Scott, que também assina o roteiro, é limpa, coesa e tem uma clara noção de como desenvolver a história, graças talvez a vantagem de ter também dirigido a versão anterior em que o filme se baseia. Com uma fotografia agradável, usando sempre muita luz natural, o fotografo Eric Alan Edwards é o craque do time técnico. Ele tem no currículo filmes como Lovelace; Eu Queria Ter a Sua Vida; Encontro de Casais; O Amor Acontece; Separados pelo Casamento; Marcas do Passado, e encontrou na edição sensível e muito bem ritmada de Priscilla Nedd-Friendly a parceria perfeita entre a captação e a montagem. Priscilla trabalhou em sucessos como Minha Mãe é uma Viagem; A Hora da Escuridão; A Proposta; O Pequeno Stuart Little 2; O Céu Pode Esperar; Uma Linda Mulher; Tucker – Um Homem E Seu Sonho entre outros.
De Repente Pai é uma ótima diversão, engraçado na medida certa, emocionante e instigante em momentos chave e muito bem realizado. Apenas não espere do filme algum tipo de lição moral ou mesmo soluções diplomáticas para o fato de uma mesma pessoa gerar tantos herdeiros, existem os casos da sociedade, claro que se tem filho de outra etnia, gay, deficiente, viciado, afinal é uma amostra do mundo de hoje, o que se fica claro é o perigo do homem manipular a criação sem limites. De qualquer maneira, é um jeito engraçado de se ter uma grande família.
A gente se encontra na semana que vem!
Beijos & queijos
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