Corridas em Minas ficam só na memória
Para pilotos e especialistas, falta de um autódromo prejudica formação de novos talentos
“Acelera, Minas Gerais!” Esse é o desejo dos amantes da velocidade no Estado, sejam atletas profissionais, amadores ou torcedores. Mas, assim como em todo em Brasil, o automobilismo mineiro vive, na verdade, uma fase de desaceleração.
Quando se olha pelo retrovisor – e para o passado –, é possível perceber a riqueza de categorias e competições que Minas reunia. A própria capital mineira já contou com provas em locais que, hoje, são considerados impensáveis. Uma dessas corridas aconteceu no entorno do Mineirão, em 1969 e 1970, sempre com grandes nomes do automobilismo do país.
“O que vejo é que houve queda no interesse pelo automobilismo. Quando era jovem, via Senna, Fittipaldi, Piquet, o próprio Barrichello. Agora, é diferente. Não tem ninguém competindo na ponta”, conta o ex-piloto de Fórmula 1 e campeão de Fórmula Indy, Cristiano da Matta, 41.
Razões. Não é preciso “pisar fundo” para chegar à resposta: a escassez de investimentos breca qualquer iniciativa. O próprio presidente da Federação Mineira, Pedro Sereno, destacou que a falta de apoio das grandes marcas é o principal fator para o panorama do esporte.
“Estamos vivendo um ano muito complicado, com a falta de dinheiro para todo lado. O esporte é o primeiro a sofrer com isso”, ressaltou Sereno. O presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Cleyton Pinheiro, aponta o mesmo problema em âmbito nacional.
“Realmente, considerado o período de recessão, e a retração em patrocínios e investimentos no esporte de uma forma geral. Mas, a manutenção das categorias em relação ao ano passado, indica que mantivemos nosso automobilismo é forte”, pontuou.
A montadora Fiat, por exemplo, reconheceu que, desde 2012, houve corte nos investimentos para o automobilismo por causa da construção da fábrica de Goiana, em Pernambuco.
O sentimento é o mesmo entre os pilotos. Rafa Matos, 33, representante mineiro na Stock Car, principal categoria da velocidade no país, pondera que a falta de um autódromo no Estado deixa Minas Gerais atrás no esporte.
“É difícil ter um termômetro quando não se tem competições de grande expressão, nem mesmo um autódromo, não desmerecendo o que tem, mas é preciso se investir”, disse Rafa, referindo ao circuito do Mega Space, em Santa Luzia.
Curvelo terá autódromo em 2015
Para o automobilismo mineiro voltar a ter destaque nacional e internacional, uma das grandes apostas é a construção de um autódromo em Curvelo, a 143 km de Belo Horizonte.
Com previsão de conclusão para o fim de 2015, o traçado principal do complexo tem 4.208 km de extensão. O circuito deve abrigar provas brasileiras e em nível internacional, como a MotoGP.
“Ele está muito voltado ao motociclismo, pois uma pista onde andam motos, também andam carros. Para 2016, já pensamos em fazer grandes eventos naquele celeiro”, explicou Pedro Sereno, presidente da Federação Mineira de Automobilismo.
Mas, entre os pilotos, a novidade não empolga. “É um projeto que espero que aconteça, mas não tenho opinião formada sobre isso. O automobilismo não pode viver de projetos, mas sim de ações. Ele é feito de melhoria, investimentos e, aqui em Minas, não se vê isso”, destaca o piloto Rafa Matos.
Pisando no freio
Recursos. A falta de dinheiro é apontada como a principal explicação para a retração do automobilismo.
A redução do percurso do Rally dos Sertões deste ano, feita por razões econômicas, é só um exemplo.
Categoria de base. Os próprios pilotos afirmam que a formação de atletas está deficiente.
Autódromo. Atualmente, Minas não reúne condições de sediar grandes provas.