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Coluna da Sétima Arte – A cidade que não queremos.

Uma ficção nacional, vencedor da Mostra de São Paulo, é um grito para a sociedade paulistana

 

Texto: Eduardo Abbas

Fotos: Califórnia Filmes

 

Muitas vezes é difícil retratar um cotidiano tão vasto e repleto de nuances como o que existe na cidade de São Paulo. A capital financeira do Brasil é também desumana e trata seus filhos como órfãos em busca de carinho em colos nem sempre bem intencionados.

 

Viver e crescer em São Paulo, nos dias de hoje, significa lutar ferozmente contra todos os eventos que, na maioria das vezes, se assemelham a países em guerra, ou mesmo aqueles esquecidos propositalmente. Vivemos uma violência desmedida, uma falta completa de compreensão de governantes e, claro, do próprio habitante. São Paulo é assim, 8 ou 800, nada aqui é pequeno demais nem grande o suficiente, a roda viva nos engole e cospe na nossa cara as mazelas que testemunhamos dia após dia.

 

Foi com essa visão meio apocalíptica, meio ficcional, que estréia nessa quinta-feira RIOCORRENTE (TC Filmes, Saracura Filmes, Califórnia Filmes), longa dirigido pelo competente Paulo Sacramento, que assina a edição e o roteiro. Paulo ficou conhecido pelo premiado documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro, ele traz atores do mundo do teatro para o elenco deste que é seu segundo filme de longa-metragem.

 

Talvez por esse motivo, ele tenha optado por uma prática pouco usada nos dias de hoje que é a utilização de locações reais em lugar de cenários de estúdio. Isso transforma completamente a obra, faz com que os personagens se insiram mais no contexto e provoca reações de repulsa em algumas cenas (veja com cuidado a seqüência do roubo do carro!).

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O enredo é simples e ao mesmo tempo complexo, no caso e no caos, São Paulo é um barril de pólvora prestes a explodir. Em meio ao turbilhão da cidade, um jornalista (Marcelo, vivido por Roberto Áudio), um ex-ladrão de automóveis (Carlos, interpretado por Lee Taylor) e uma mulher misteriosa (Renata, na pele de Simone Iliescu) vivem um volátil e intenso triângulo amoroso. Do choque entre desejos tão distintos e do atrito entre as faces opostas da cidade, emerge a urgência de mudanças radicais. No meio desse pandemônio de emoções, aparece o menino Exu (Vinícius dos Anjos da plenamente conta do recado) que vive com Carlos e provoca nele seu instinto paternal.

 

RIOCORRENTE é mais ou menos a cara da cidade grande, da paulicéia desvairada que abraça seus filhos e seus novos moradores, da realidade nua e crua que o mundo de hoje coloca na nossa frente, resumidos em 79 minutos de arte em forma de luz.

 

A gente se encontra na semana que vem!

 

Beijos & queijos

 

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