Casa Fiat de Cultura viaja pelo universo de Dante Alighieri e inaugura exposição “O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura”.
A Casa Fiat de Cultura convida o público a desvendar as alegorias e os simbolismos do poema épico A Divina Comédia, de Dante Alighieri. A influência desta obra-prima está impregnada no imaginário ocidental e, mesmo depois de séculos, continua a inspirar escritores e toda a literatura mundial, além de outras áreas da cultura. Na exposição “O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura”, a artista italiana transpõe cenas clássicas do Inferno, o primeiro reino de A Divina Comédia, em uma produção de 15 obras fotográficas baseadas no gênero tableau vivant – tendência da fotografia contemporânea de apresentar como cenas reais as imagens construídas de acordo com a dinâmica da cinematografia. Um ambiente imersivo foi criado na Casa Fiat de Cultura para despertar o imaginário dos visitantes e proporcionar uma reflexão sobre a existência humana. A mostra fica em cartaz de 28 de março a 28 de maio de 2023 e é uma parceria da Casa Fiat de Cultura com o Consulado da Itália em Belo Horizonte e o Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro. Toda programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.
O trabalho de Valentina Vannicola conecta as novas gerações à obra daquele que é chamado de sumo poeta. Para ela, Dante ensina que é possível falar com clareza e profundidade de todas as coisas, das mais importantes às mais supérfluas. “A Divina Comédia é uma obra imaginativa e com uma linguagem envolvente, na qual Dante orienta o leitor de modo a facilitar a visualização e materialização dos personagens e das situações descritas. Dante insere a alegoria, a grande advertência ou ensinamento político e ético e se abre para um segundo imaginário: o da interpretação. Para esta exposição, cada imagem que produzi está empenhada em traduzir o rico simbolismo do poema” , revela.
Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo, A Divina Comédia nasceu revolucionária e segue inspirando até os dias de hoje, mais de 700 anos após a morte de Alighieri. “Ao escrever uma jornada que navegou pelas instâncias do inferno, do purgatório e do paraíso, Dante Alighieri ultrapassou as barreiras poéticas, criou a base de uma língua e se tornou símbolo de um país. As cenas italianas, exibidas em terras mineiras, celebram esse forte diálogo entre as culturas e entre as artes, em suas mais diversas formas de expressão. Assim, reforçamos o nosso compromisso de promover diferentes reflexões e de discutir o clássico com um olhar contemporâneo”, reforça.
A mostra “O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura” é uma realização da Casa Fiat de Cultura, do Consulado da Itália em Belo Horizonte, do Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Fiat e do Banco Safra, e co-patrocínio do Banco Fidis e da Brose do Brasil. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.
As obras de Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura
O trabalho da artista italiana Valentina Vannicola cria um diálogo entre literatura, cinema, teatro e fotografia. As imagens, elaboradas como tableau vivants, articulam fragmentos poéticos para evocar histórias clássicas da literatura universal em composições minuciosamente calculadas. “Para a criação das minhas imagens preciso compor a cena em frente à lente para conseguir a atmosfera certa. A fotografia encenada não registra a realidade, mas a criação de uma situação em que o artifício, a máscara, o símbolo, a técnica e a interpretação devem ser combinados para criar uma linguagem”, explica.
Valentina escolheu sua cidade natal, Tolfa, ao norte de Roma, na Itália, para a interpretação dos condenados e das punições detalhadamente descritas por Dante Alighieri. A paisagem árida, o céu acinzentado e a retórica medieval serviram de inspiração para as obras, que se destacam pela clareza dramatúrgica e pela composição em um estilo de inspiração surrealista. Cada um dos 15 registros foi filmado com uma câmera analógica Hasselblad e seus negativos foram digitalizados, pós-produzidos e impressos.
Os protagonistas das cenas são atores não profissionais, assim como no cinema neorrealista italiano e nas pinturas de Caravaggio, acrescentando às imagens uma camada social, histórica e antropológica. Foram os moradores de Tolfa e os membros da família da artista que desempenharam o papel dos condenados e transformaram a obra em um projeto coletivo. Para os figurinos, camisas e calças de lã. O motivo, segundo a artista, foi concentrar toda a atenção na nudez das almas e nos lugares que os rodeiam. “Na minha interpretação do Inferno de Dante, optei por eliminar de cena as figuras de Dante e Virgílio, quase como se a história fosse feita subjetivamente. Ao mesmo tempo, escolhi outro tipo de nudez, que não é a literal da carne, mas está ligada à tradição da minha terra, que é o uso de uma segunda pele, comumente usada sob as roupas para se proteger do frio durante o trabalho no campo”, explica.
Uma longa fase de estudo, entretanto, precedeu as imagens. O processo passou pelo estudo da obra literária, seleção das partes potencialmente representáveis, criação de esboços preparatórios, storyboard, identificação de locais para o cenário e, por fim, a captura das cenas. Todos esses passos estão resumidos em um grande esboço preparatório, que também estará em exibição na mostra, e retrata a representação medieval típica do Inferno, a mesma seguida por Dante. “Em uma figura de cone invertido relatei, de forma estilizada, os cânticos, alguns hendecassílabos de referência, as dores que as almas do submundo estão submetidas e sobre as quais ao mesmo tempo tomei nota dos locais identificados, de outras referências técnicas e elaborei os primeiros esboços preparatórios do que seria, então, o clique final, a cena exata para cada registro”, completa.
A expografia
No momento de planejar a expografia de “O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura”, o arquiteto Paulo Waisberg conta que a primeira inspiração veio das obras de Valentina, sobretudo da paisagem desolada escolhida pela artista para a captura das imagens. Foi da relação entre o material visual e a obra de Dante Alighieri que surgiu um elemento atípico para instalar as 15 obras: a terra. Da terra, brotam cavaletes que sustentam as imagens, que são abrigadas em uma galeria com paredes e teto pretos, criando um espaço ainda mais dramático.
Outro ambiente foi criado para que o visitante tenha uma contextualização sobre a vida do poeta e A Divina Comédia. Este espaço traz o carvão como elemento expográfico e, no centro da galeria, está o rosto de Dante, extremamente expressivo, “como se estivesse observando tudo o que acontece”, explica Waisberg. O arquiteto explica que a referência ao carvão surgiu como ideia no início do poema de Dante, quando ele relata estar perdido numa selva escura.
A sala contará com ilustrações de Gustave Doré sobre A Divina Comédia e exibirá trechos do filme L’ Inferno (O Inferno), de 1911, com direção de Giuseppe de Liguoro, Francesco Bertolini, Adolfo Padovan, sendo, provavelmente, a primeira adaptação da obra para o cinema mudo. Além disso, o público poderá apreciar exemplares raros de A Divina Comédia, vindos do acerto da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Dentre eles, uma edição de 1878 escrita por Pier Angelo Fiorentino e com gravuras de Gustave Doré, apontada por Charles Baudelaire, Victor Hugo e Félicité Robert de Lamennais como a melhor tradução da obra de Dante; e uma edição considerada uma das primeiras traduções integrais de A Divina Comédia para o português no Brasil.
Conectado à estética da exposição, um espaço dedicado a leitura, onde estarão à disposição do público exemplares diversos de A Divina Comédia. Haverá, também, uma mesa sensorial, para experimentação. Neste espaço, os visitantes poderão tocar em elementos que integram a exposição, como a terra e o carvão, ampliando as possibilidades de fruição e interação com a obra.
Bate-papo de abertura
A abertura da exposição “O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura” será marcada por um bate-papo virtual com a artista, em que serão abordados os detalhes sobre o seu primoroso trabalho.
Com formação em Filmologia e Fotografia, seus projetos se concentraram na transposição fotográfica de obras literárias e histórias, reencenadas em tableau vivant. “O que me interessava era contar histórias, eu sabia que o cinema era a apoteose para fazê-lo, mas sentia a necessidade de trazer a magia cinematográfica para o espaço mais silencioso de uma única imagem”, explica.
Para cada um dos trabalhos, Valentina “alimenta-se” dos estudos em cinema, literatura, pintura, buscando influências no fascínio pelo cinema neorrealista, na atração pelo épico ou pelo simbolismo da pintura sacra, no trabalho de Andrei Tarkovsky, entre outros.
O bate-papo, gravado previamente, será transmitido no dia 28 março, às 19h, pelo canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pela Sympla.
Lista de obras
- A entrada para o Inferno
- Os ignavos
- A passagem do Aqueronte
- O Limbo
- Os luxuriosos
- Os gulosos
- Os avarentos
- Irados e preguiçosos
- Os hereges
- Farinata degli Uberti, hereges
- Os suicidas
- Taide, bajuladores
- Os simoníacos
- Os falsários
- Mestre Adamo, falsário
Programa Educativo
Durante toda a exposição, o público poderá fazer visitas mediadas pela equipe do Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura.
A mostra será abordada a partir de três eixos:
• Eixo histórico: será abordado o período medieval, a biografia e a relevância do autor para a história da literatura, destacando a Divina Comédia como obra fundamental e atemporal.
• Eixo técnico-estético: a fotografia encenada será trabalhada enquanto gênero, destacando suas características, bem como seu diálogo com a literatura, o cinema e outras expressões da arte e sua relevância dentro da cena contemporânea.
• Eixo biográfico: apresentará a trajetória de Valentina Vaniccola, seu trabalho e as escolhas que o definem.
Dante Alighieri
Considerado o “pai da língua italiana”, Dante nasceu em 1265, em Florença, quando a Europa já se encontrava há quase oito séculos dentro da Idade Média. Foi poeta, linguista, teórico político e filósofo, e marcou a história da Itália.
Na juventude, participou ativamente da vida política e em 1300, alcançou o cargo de prior, isto é, governador de Florença. Mas por articulações de seus adversários políticos, sob a falsa acusação de corrupção, foi condenado à interdição aos ofícios públicos, multas, prisão e pena de morte em 1302.
Dante escolheu se exilar e jamais retornou a Florença. Passou, então, a viver em várias cidades da Itália e deu início à produção de A Divina Comédia, enriquecida por tantos lugares, paisagens, personagens, guerras e línguas que conheceu. Esta, que é considerada sua principal obra-prima, contribuiu para a afirmação da língua italiana, ao ser escolhida, em vez do latim, para ser escrita.
Dantedì, o Dia de Dante
O Dia de Dante entrou para o calendário italiano em 2020. A escolha do dia 25 de março simboliza a “giornata dedicata a Dante”, pois diversos estudiosos indicam que essa seja a data de início da viagem d’A Divina Comédia. Para marcar o aniversário de 700 anos de sua morte, ocorrida em 1321, uniram-se, em uma iniciativa, parlamentares, intelectuais, acadêmicos e instituições culturais de renome na Itália, solicitando o dia para recordar a genialidade da ilustre personalidade.
A Divina Comédia
A Divina Comédia, reverenciada tanto pelo valor poético quanto cultural, segue há séculos como uma das maiores contribuições artísticas da Itália ao mundo, influenciando leitores de todas as épocas.
O poema épico, publicado no início do século XIV, narra a travessia do autor ao Inferno, Purgatório e Paraíso. A viagem de Dante é contada em cem cantos, com 14 mil versos, com rimas alternadas e encadeadas em tercetos de hendecassílabos (versos de onze sílabas).
A obra foi escrita por cerca de 15 anos e na proposta original, o livro se chamava apenas “Comédia”. A Divina Comédia, como passou a ser conhecida a partir da edição de Ludovico Dolce, em 1555, seguiu a nomeação de Giovanni Boccaccio, que assim a chamou em homenagem à grandeza da obra.
Valentina Vannicola
Graduou-se em Filmologia na Universidade La Sapienza de Roma e posteriormente formou-se na Scuola Romana di Fotografia. Toda a sua prática artística pode ser conduzida ao gênero da fotografia encenada.
Seu trabalho foi exibido em várias galerias e festivais. Em 2011, publicou com a editora Postcard, L’Inferno di Dante, com a curadoria de Benedetta Cestelli Guidi. Em 2020, trabalhou num projeto no âmbito do Universo Olivetti. Comunidade como utopia concreta promovido pelo Museu MAXXI, Fundação Adriano Olivetti e pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália. Em 2021, o Inferno de Dante entrou para as coleções de fotografia do Museu MAXXI.
Seu trabalho recebeu vários prêmios, incluindo: Prêmio Combat Prize, menção especial, 2018; primeiro prêmio como melhor portfólio na Fotografia Europea, 2017; Prêmio Fundación Ankaria/PHotoEspaña – Descubrimiento PHE, melhor portfólio, 2017; Prêmio Francesco Fabbri como finalista de Arte Contemporânea, 2012; Prêmio Internacional Limen Arte, 2010; segundo prêmio de melhor portfólio no Festival Fotoleggendo, 2010.
A Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras. Mais de 70 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 17 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 3,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 600 mil participaram de suas atividades educativas.
SERVIÇO
O Inferno de Dante – Valentina Vannicola na Casa Fiat de Cultura
Período expositivo: 28 de março a 28 de maio de 2023
Visitação presencial: terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Tour virtual no site: www.casafiatdecultura.com.br