Coluna da Sétima Arte – Quando viramos vinho
Uma comédia estrelada por dois ícones de Hollywood trata a melhor idade com humor e tenta consertar os resquícios dos anos 80
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: PlayArte
O que é chegar à terceira idade? Quando sabemos exatamente que estamos vivendo essa nova fase da vida? Que lições aprendemos e o que podemos ensinar para os mais jovens? Na verdade, não existe um momento exato, é sempre um período de transição que passamos. Diferentemente da infância para a idade adulta, quando marcamos datas para isso acontecer, a chamada “melhor idade” chega sem avisar nem agendar horário.
Podemos ter noção dessa passagem, talvez seja quando estamos ficando mais sozinhos, os filhos se foram e as pessoas que amamos mudam para outro plano. Saber continuar a vida nessas condições é, antes de qualquer coisa, uma arte, pois dar continuidade na trajetória e mesmo recomeçar depois de muitos anos nas costas não é para qualquer um.
Entra em cartaz nessa quinta-feira Um Amor de Vizinha (Castle Rock Entertainment, Envision Entertainment, Foresight Unlimited, PlayArte Pictures) um filme feito, na verdade, por especialistas no assunto. O roteirista Mark Andrus tem em Melhor Impossível sua obra de referência, e o diretor Rob Reiner (filho da lenda Carl Reiner, que fez diversas parcerias com Mel Brooks) traz no currículo o sensível e bem realizado Antes de Partir, ambos tratando o tema ficar velho e fazer o que?
Encabeçado por duas das mais brilhantes estrelas de Hollywood, o filme conta a história de um corretor de imóveis egocêntrico e egoísta (o setentão Michael Douglas em uma performance muito convincente do aposentado Oren Pouco) que vive tranquilamente. Até que um dia, seu filho (Russell, vivido por Theo Stockman), que ele não e vê e não fala há anos, aparece de repente e pede para que ele cuide de sua neta (Sarah, interpretada pela atriz-mirim Sterling Jerins) por um tempo. Sem a menor idéia de como lidar com uma criança, ele pede ajuda a sua vizinha (vivida pela excelente e competentíssima Diane Keaton, na personagem Leah) para cuidar da menina.
O elenco tem jóias como a octogenária atriz Frances Sternhagen e uma rápida aparição do canto/atorFrankie Valli. As interpretações são todas niveladas por cima, são talentos que “puxam” os mais jovens e tiram deles o que tem a oferecer de melhor. A direção de fotografia e a edição ficam a cargo de duas mulheres. A fotografa Reed Morano surpreende na abertura com um plano-seqüência muitíssimo bem realizado, utilizando gruas e helicóptero na captação, mas deixa a desejar na ausência de corres berrantes, mesmo em cenários próprios para isso, dando um tom mais suave e tendo uma definição de penumbra muito iluminada. Já a editora Dorian Harris procura imprimir um ritmo de narrativa mais lento, tem alguns erros na montagem (um que chamou a atenção foram as duas mãos no rosto no contra-plano e no plano geral as mãos sumiram) e às vezes peca na demora do corte no instante da piada. Na verdade, as duas têm origens em séries de TV, o que é muito diferente de cinema comercial, por isso essas dificuldades na apresentação do produto final.
É um filme gostoso de assistir, um ótimo programa para quem quer deixar o stress da semana na cadeira do cinema, é divertido, irônico, tem frases muitíssimo bem construídas (dizer oi é uma preparação para se dizer adeus!) e serve como um cair de ficha para muitos de nós, deixa no ar um sabor que era apenas encontrado na cantina do Giovanni Bruno, um restauranteur que nos deixou no dia 26 de agosto: “O que vale na vida são os momentos”.
A gente se encontra na semana que vêm!
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